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11.02.04
IMES utiliza 'fábrica de software' para criar serviço via WAP
 

Os estudantes de Ciências da Computação do Centro Universitário Municipal de São Caetano (IMES) criaram recentemente, em parceria com a empresa Bonismobile, de São Caetano, um sistema que permite aos alunos da universidade consultar dados acadêmicos (faltas, notas etc.) via celular. O projeto utilizou o conceito de fábrica de software. O professor Aparecido Valdemir de Freitas coordenou a empreitada. A seguir, os principais trechos da entrevista concedida ao Diário OnLine.

DOL - O conceito de "fábrica de software" para desenvolvimento de aplicativos vem sendo cada vez mais adotado pelas empresas em parcerias com universidades. Como é feita a divisão do trabalho, levando-se em conta o conceito de 'linha de montagem'?
APARECIDO VALDEMIR DE FREITAS - Neste primeiro projeto a idéia foi fazer os alunos passarem por todas as etapas de desenvolvimento de um software. Mesmo na primeira etapa, que é o levantamento de requisitos, os alunos entrevistaram os colegas para identificar que tipo de informações eles gostariam de ter acesso via celular. O interessante foi que os mesmos identificaram tópicos que não imaginávamos contemplar na aplicação, como consulta a Palestras e Estágios. A parte de modelagem lógica e física de dados também foi feita junto com os alunos, discutindo cada componente. Como os alunos selecionados são em sua maior parte do segundo ano, muitos conceitos ainda eram novidades para eles. No momento atual, os alunos estão trabalhando em paralelo, cada um com um determinado conjunto de dados (alunos, cursos, matérias, notas, etc). Na fase de programação, a idéia é dividir cada módulo para um aluno, ou grupo de alunos, sempre partindo de uma definição conjunta para que os padrões sejam respeitados.

DOL - Quais os benefícios e custos para ambas as partes?
FREITAS - Em nosso projeto, tanto a universidade quanto a empresa estão disponibilizando o tempo dos professores e profissionais da empresa, para, através de reuniões de consultoria e de treinamento, fornecerem todos os subsídios técnicos em assuntos que serão necessários para o desenvolvimento do projeto. Os professores envolvidos no projeto estão em regime de jornada e, portanto, podem oferecer dedicação ao projeto. O mesmo ocorre com os profissionais da empresa, os quais são alocados em reuniões semanais de acompanhamento. Estamos utilizando para a condução do projeto a infraestrutura de laboratório da própria universidade e as reuniões e atividades de trabalho estão sendo conduzidas no período vespertino, uma vez que o laboratório de informática está relativamente disponível neste período. Portanto, os custos envolvidos no projeto são praticamente nulos uma vez que o projeto está se desenvolvendo com a infraestrutura de recursos humanos e físicos já disponíveis nas instituições em questão. O grande benefício para a universidade é a capacitação dos alunos que certamente terão maior motivação em prosseguir seus estudos na instituição. A real possibilidade de enquadramento dos alunos no mercado de trabalho também será um forte atrativo para a consolidação da área de computação da instituição em projetos para a comunidade. Quanto a empresa, certamente o desenvolvimento de um produto e a disponibilidade de mão-de-obra especializada no projeto são benefícios significativos.

DOL - No caso do projeto feito em parceria com a BonisMobile e o IMES (para consultas de informações acadêmicas via celular), foi o primeiro deste tipo ou tiveram outros?
FREITAS - Este é um projeto piloto no âmbito de desenvolvimento de software com a participação de alunos. Outros projetos na mesma linha estão sendo definidos com outras empresas da região. Neste primeiro projeto, foi escolhida a Consulta a Situação Acadêmica via Celular em virtude da empresa parceira dominar esta tecnologia e do lado do IMES teríamos um universo no qual os alunos conhecem bem as informações (notas, faltas, matérias). Além disso, seria um produto que poderia ser colocado à disposição da instituição.

DOL - Como foi o processo de desenvolvimento do programa (desde a definição dos dados que os alunos gostariam de checar via celular, por exemplo, até a linguagem utilizada);
FREITAS - A idéia foi fazer os alunos passarem por todas as etapas de desenvolvimento de um software. Na primeira etapa, que é o levantamento de requisitos, os alunos entrevistaram os colegas para identificar que tipo de informações eles gostariam de ter acesso via celular. De tudo que foi levantado houve um filtro de tópicos que eram possíveis e de outros que eram inviáveis, por questões de custo, periodicidade dos dados, etc. Nas etapas seguintes cada aluno recebeu uma tarefa similar a respeito de conjunto de dados específicos do projeto. Por exemplo: dados de alunos, dados de notas, dados de matérias, dados de cursos, etc: Participaram da modelagem lógica dos dados, criação de tabelas, inclusão de dados para testes e elaboração de consultas para extração de informações. Como a linguagem a ser utilizada não é de domínio dos alunos, um profissional da Bonis também instruiu os alunos na ferramenta e no momento os alunos estão estudando através de manuais e livros. A próxima etapa é iniciar a parte de programação na qual cada aluno será responsável por um módulo específico partindo de uma definição conjunta para que os padrões sejam respeitados. A idéia é que a aplicação seja acessível por qualquer aparelho celular, de qualquer operadora, desde que o aparelho tenha WAP.

DOL - Qual a data para o serviço começar a funcionar? Quanto tempo demorou o desenvolvimento?
FREITAS - A idéia é que o produto esteja pronto para uso no final de Fevereiro. O projeto começou efetivamente no final de setembro, após o período de seleção dos alunos. Houve uma pausa de um mês no período de provas e exames. No total serão gastos de quatro a cinco meses neste projeto.

DOL - Como foi a divisão de funções entre o IMES e a empresa?
FREITAS - A Bonis entrou com o conhecimento técnico de seus profissionais na tecnologia de desenvolvimento para celular. O IMES além de fornecer o espaço, equipamentos e alunos destinou também professores para fazer a ponte entre o conhecimento dos alunos e da empresa, para que a transferência fosse feita de forma a que os alunos fizessem analogias com o conhecimento absorvido nas disciplinas cursadas. Normalmente a partir do segundo ano os alunos já estão aptos a participar deste tipo de projeto. Obviamente a adequação de alunos em início de curso está vinculada à complexidade do produto a ser desenvolvido. O aluno do terceiro ano é o aluno ideal, pois este já tem um melhor embasamento dos conceitos a serem aplicados. O aluno de primeiro ano, quando tem perfil de investigador também pode ser aproveitado. Na verdade a fábrica de Software funciona também como um espaço de aprendizado. Se o aluno ainda não tem o conhecimento, os professores e profissionais que lideram o projeto tentam fazer uso de técnicas que facilitem a compreensão dos alunos. Outras vezes é necessário colocar o aluno diante de manuais e outras fontes de pesquisa.

DOL - Quantos alunos do IMES participaram do projeto?
FREITAS - Oito alunos do Imes foram selecionados de um total de 19 inscritos. O principal critério na escolha foi a disponibilidade de horário no período vespertino onde temos mais ociosidade no laboratório. Três alunos se colocaram no mercado de trabalho no período do projeto e tiveram que se desligar do programa.

DOL - Há outros projetos deste tipo no IMES previstos para o futuro? E há possibilidade do IMES vir a ter uma própria fábrica de softwares, ou seja, sem parcerias com empresas?
FREITAS - Estamos sim em contato com algumas empresas da região com o objetivo de ampliar a implementação de projetos de software. Existe uma grande possibilidade de no início de 2004 firmarmos uma parceria com uma empresa de desenvolvimento de software para a área financeira e também com uma empresa especializada na área de biometria. A parceria com empresas é extremamente interessante, pois possibilita uma ligação entre o ferramental que o Mercado está efetivamente usando e os conceitos vistos em sala de aula.

DOL - Como o senhor vê o futuro das fábricas de software no Brasil e qual a importância dela no processo de colocação de um profissional recém-formado no mercado de trabalho?
FREITAS - Vejo com muito otimismo ações que tenham como meta o estreitamento dos laços entre instituições de ensino e empresas, uma vez que todos os envolvidos serão beneficiados. Talvez o mais beneficiado de todos seja o próprio aluno, uma vez que tem a oportunidade de, logo nos primeiros anos de faculdade, poder exercitar e tornar prático e real os conhecimentos adquiridos ao longo do seu curso.

Reportagem: Camila Escudero
 

Notícia publicada no portal <Universidade de São Caetano do Sul>

 

 
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