Os
estudantes de Ciências da Computação do Centro
Universitário Municipal de São Caetano (IMES) criaram
recentemente, em parceria com a empresa Bonismobile,
de São Caetano, um sistema que permite aos alunos da
universidade consultar dados acadêmicos (faltas, notas
etc.) via celular. O projeto utilizou o conceito de
fábrica de software. O professor Aparecido Valdemir de
Freitas coordenou a empreitada. A seguir, os
principais trechos da entrevista concedida ao Diário
OnLine.
DOL - O conceito de "fábrica de software" para
desenvolvimento de aplicativos vem sendo cada vez mais
adotado pelas empresas em parcerias com universidades.
Como é feita a divisão do trabalho, levando-se em
conta o conceito de 'linha de montagem'?
APARECIDO VALDEMIR DE FREITAS - Neste primeiro
projeto a idéia foi fazer os alunos passarem por todas
as etapas de desenvolvimento de um software. Mesmo na
primeira etapa, que é o levantamento de requisitos, os
alunos entrevistaram os colegas para identificar que
tipo de informações eles gostariam de ter acesso via
celular. O interessante foi que os mesmos
identificaram tópicos que não imaginávamos contemplar
na aplicação, como consulta a Palestras e Estágios. A
parte de modelagem lógica e física de dados também foi
feita junto com os alunos, discutindo cada componente.
Como os alunos selecionados são em sua maior parte do
segundo ano, muitos conceitos ainda eram novidades
para eles. No momento atual, os alunos estão
trabalhando em paralelo, cada um com um determinado
conjunto de dados (alunos, cursos, matérias, notas,
etc). Na fase de programação, a idéia é dividir cada
módulo para um aluno, ou grupo de alunos, sempre
partindo de uma definição conjunta para que os padrões
sejam respeitados.
DOL - Quais os benefícios e custos para ambas
as partes?
FREITAS - Em nosso projeto, tanto a
universidade quanto a empresa estão disponibilizando o
tempo dos professores e profissionais da empresa,
para, através de reuniões de consultoria e de
treinamento, fornecerem todos os subsídios técnicos em
assuntos que serão necessários para o desenvolvimento
do projeto. Os professores envolvidos no projeto estão
em regime de jornada e, portanto, podem oferecer
dedicação ao projeto. O mesmo ocorre com os
profissionais da empresa, os quais são alocados em
reuniões semanais de acompanhamento. Estamos
utilizando para a condução do projeto a infraestrutura
de laboratório da própria universidade e as reuniões e
atividades de trabalho estão sendo conduzidas no
período vespertino, uma vez que o laboratório de
informática está relativamente disponível neste
período. Portanto, os custos envolvidos no projeto são
praticamente nulos uma vez que o projeto está se
desenvolvendo com a infraestrutura de recursos humanos
e físicos já disponíveis nas instituições em questão.
O grande benefício para a universidade é a capacitação
dos alunos que certamente terão maior motivação em
prosseguir seus estudos na instituição. A real
possibilidade de enquadramento dos alunos no mercado
de trabalho também será um forte atrativo para a
consolidação da área de computação da instituição em
projetos para a comunidade. Quanto a empresa,
certamente o desenvolvimento de um produto e a
disponibilidade de mão-de-obra especializada no
projeto são benefícios significativos.
DOL - No caso do projeto feito em parceria com
a BonisMobile e o IMES (para consultas de informações
acadêmicas via celular), foi o primeiro deste tipo ou
tiveram outros?
FREITAS - Este é um projeto piloto no âmbito de
desenvolvimento de software com a participação de
alunos. Outros projetos na mesma linha estão sendo
definidos com outras empresas da região. Neste
primeiro projeto, foi escolhida a Consulta a Situação
Acadêmica via Celular em virtude da empresa parceira
dominar esta tecnologia e do lado do IMES teríamos um
universo no qual os alunos conhecem bem as informações
(notas, faltas, matérias). Além disso, seria um
produto que poderia ser colocado à disposição da
instituição.
DOL - Como foi o processo de desenvolvimento do
programa (desde a definição dos dados que os alunos
gostariam de checar via celular, por exemplo, até a
linguagem utilizada);
FREITAS - A idéia foi fazer os alunos passarem
por todas as etapas de desenvolvimento de um software.
Na primeira etapa, que é o levantamento de requisitos,
os alunos entrevistaram os colegas para identificar
que tipo de informações eles gostariam de ter acesso
via celular. De tudo que foi levantado houve um filtro
de tópicos que eram possíveis e de outros que eram
inviáveis, por questões de custo, periodicidade dos
dados, etc. Nas etapas seguintes cada aluno recebeu
uma tarefa similar a respeito de conjunto de dados
específicos do projeto. Por exemplo: dados de alunos,
dados de notas, dados de matérias, dados de cursos,
etc: Participaram da modelagem lógica dos dados,
criação de tabelas, inclusão de dados para testes e
elaboração de consultas para extração de informações.
Como a linguagem a ser utilizada não é de domínio dos
alunos, um profissional da Bonis também instruiu os
alunos na ferramenta e no momento os alunos estão
estudando através de manuais e livros. A próxima etapa
é iniciar a parte de programação na qual cada aluno
será responsável por um módulo específico partindo de
uma definição conjunta para que os padrões sejam
respeitados. A idéia é que a aplicação seja acessível
por qualquer aparelho celular, de qualquer operadora,
desde que o aparelho tenha WAP.
DOL - Qual a data para o serviço começar a
funcionar? Quanto tempo demorou o desenvolvimento?
FREITAS - A idéia é que o produto esteja pronto
para uso no final de Fevereiro. O projeto começou
efetivamente no final de setembro, após o período de
seleção dos alunos. Houve uma pausa de um mês no
período de provas e exames. No total serão gastos de
quatro a cinco meses neste projeto.
DOL - Como foi a divisão de funções entre o
IMES e a empresa?
FREITAS - A Bonis entrou com o conhecimento
técnico de seus profissionais na tecnologia de
desenvolvimento para celular. O IMES além de fornecer
o espaço, equipamentos e alunos destinou também
professores para fazer a ponte entre o conhecimento
dos alunos e da empresa, para que a transferência
fosse feita de forma a que os alunos fizessem
analogias com o conhecimento absorvido nas disciplinas
cursadas. Normalmente a partir do segundo ano os
alunos já estão aptos a participar deste tipo de
projeto. Obviamente a adequação de alunos em início de
curso está vinculada à complexidade do produto a ser
desenvolvido. O aluno do terceiro ano é o aluno ideal,
pois este já tem um melhor embasamento dos conceitos a
serem aplicados. O aluno de primeiro ano, quando tem
perfil de investigador também pode ser aproveitado. Na
verdade a fábrica de Software funciona também como um
espaço de aprendizado. Se o aluno ainda não tem o
conhecimento, os professores e profissionais que
lideram o projeto tentam fazer uso de técnicas que
facilitem a compreensão dos alunos. Outras vezes é
necessário colocar o aluno diante de manuais e outras
fontes de pesquisa.
DOL - Quantos alunos do IMES participaram do
projeto?
FREITAS - Oito alunos do Imes foram
selecionados de um total de 19 inscritos. O principal
critério na escolha foi a disponibilidade de horário
no período vespertino onde temos mais ociosidade no
laboratório. Três alunos se colocaram no mercado de
trabalho no período do projeto e tiveram que se
desligar do programa.
DOL - Há outros projetos deste tipo no IMES
previstos para o futuro? E há possibilidade do IMES
vir a ter uma própria fábrica de softwares, ou seja,
sem parcerias com empresas?
FREITAS - Estamos sim em contato com algumas
empresas da região com o objetivo de ampliar a
implementação de projetos de software. Existe uma
grande possibilidade de no início de 2004 firmarmos
uma parceria com uma empresa de desenvolvimento de
software para a área financeira e também com uma
empresa especializada na área de biometria. A parceria
com empresas é extremamente interessante, pois
possibilita uma ligação entre o ferramental que o
Mercado está efetivamente usando e os conceitos vistos
em sala de aula.
DOL - Como o senhor vê o futuro das fábricas de
software no Brasil e qual a importância dela no
processo de colocação de um profissional recém-formado
no mercado de trabalho?
FREITAS - Vejo com muito otimismo ações que
tenham como meta o estreitamento dos laços entre
instituições de ensino e empresas, uma vez que todos
os envolvidos serão beneficiados. Talvez o mais
beneficiado de todos seja o próprio aluno, uma vez que
tem a oportunidade de, logo nos primeiros anos de
faculdade, poder exercitar e tornar prático e real os
conhecimentos adquiridos ao longo do seu curso.
Reportagem: Camila Escudero
Notícia
publicada no portal <Universidade de São
Caetano do Sul> |